10.12.08

baile

ela estreava o vestido...

Radiava com penas e laços, sangue quente na boca. Era de um eterno padecer, encostada em alguma parede séria, restrigindo seus próprios movimentos... era de se morrer por alguém, e muitos de se matarem por ela mas calava em pena por si e de amor por um. Enquanto esperava pela carona, observava qualquer coisa presa no sapato. Era de uma textura única e quase não tinha forma, não saberia explicar se precisasse, e nem tentaria. Ao ouvir o cantar dos pneus novos na frente do portão resolveu deixar de lado o achado e caminhou para longe dali, deixando seus pensamentos fluírem livres com seu vestido, tinha, nos cabelos gotas de um sereno feliz, tinha alguma esperança e não pensava em mais nada, deixava-se ir.

***

Depois de uma noite de bailes e palavras insensatas, ela voltou para casa.

Ao pisar numa poça de água que havia permanecido em frente a sua porta depois da chuva se lembrou daquela qualquer coisa que encontrara no sapato e foi procurar ver o que era, estava lá ainda e com algum esforço, descalçando um pé delicadamente descolou o que havia sido posto ali talvez por engano, talvez de propósito, era algo como um papel, amassado, esquecido, quase velho...

Ao desfazer todas as dobras daquela massa, percebeu uma letra, algo escrito com pressa num papel comum.

"Se quiseres realmente me encontrar que não venha a tua tão esperada festa e aguarde por mim... Eu não vou te decepcionar."

Com um suspiro e com ele apenas fingindo-se de companhia, ela se calou. O ar pesava no peito em noites quentes como aquela.


***