6.12.08

Je pense à toi...


ele tinha um prazer quase infantil quando ouvia o som que a sola fazia ao marcar o ritmo no asfalto molhado. era um ruídozinho significante, quase incerto que o mantinha sobre a superfície de qualquer coisa que vivia. ele colava seus lábios ao seu instrumento com dúvida que o martelava o sentido, era preferível deixar de lado, pois não, era o que fazia. com um cuidado estreito reajustava os dedos longos e curvos sobre o instrumento, cada gota da chuva fina que corria pela tarde sobrevoava a sua presença com medo de o tocar, era devedora a sua fragilidade, era flagrante. os passantes, alguns calmos observavam com gosto, outros deixavam o orgulho de lado e paravam. alguns até jogavam qualquer moeda no chapéu colocado a sua frente, outros olhavam para o outro lado com um certo receio e uma pena de quem acha que aquilo não daria em nada.

a chuva aplaudia, quase sem intenção e pela metade, já que tinha outros tantos moços como aquele para entregar-se fina e lúcida como em um sonho.


*foto: william claxton