11.1.09

sweet pumpkin

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Acho que Clarice me mataria se me visse descabelar tão frequentemente. Sei que Rimbaud se enjoaria de mim. Os constantes pedidos de afeto o regulariam e me deixariam na mão, enquanto a estrada o chamasse eu faria pirraça tirando o pó do chapéu redondo dele que teria roubado em seu sono. De certo Hilst daria risada e fumaria mais um enquanto Baker tocaria quietinho no canto com medo da polícia. "Branco não tem que ter medo da polícia", "Mas amore, não estamos mais nos anos cinquenta e aqui não é ali"... Alguém me pergunta se eu gosto de Davis, eu respondo que não. Coltrane faz mais meu estilo mas não rasgaria a camisa por ninguém, nem mesmo por McRae, talvez por Billie -- mesmo sem engolir minha candura. Certamente Oscar se irritaria comigo e minha "simpatia" por todos aqueles que são injustamente chamados de underdogs, me daria algumas baforadas na cara e me deixaria a sós em algum canto escuro, enquanto Sylvia me daria a mão e me ensinaria a temer. Me mostraria o mundo com desdobras nas entrelinhas enquanto o sol se colocaria ao seu favor. Adoraria ver os cabelos ensolarados dela emoldurando tamanha escuridão. O incrível é que com razão Yates escreveria um livro sobre mim, contando meu fim nessa jornada vazia e sem esperança. "É necessário muita coragem para perceber a falta de esperança", eu diria que sim com a cabeça -- nada é tão certo quanto falta de esperança -- e voltaria a um banco em uma praça qualquer, tomando um ar.


Sei tão pouco de mim e ao mesmo tempo sei tanto do que se passa aqui...


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