18.10.08

coisas de amigos (nao sei se posso usar essa palavra) parte III

ele foi direto no ponto, parecia saber.

"você por acaso pensou isso tudo antes?"

ainda com a colher na boca, lambia os últimos resquícios de iogurte daquele utensílio de metal e deixava o gosto preso entre meus lábios porque não teria outra daquelas caixinhas pra mandar pra dentro. meio que sem me dar conta respondi e indaguei ao mesmo tempo com a colher dentro da boca:

"depende. do que você tá falando?"

ele tinha um ar de descrédito que me irritou. colocando o livro na mesa e os papéis todos largados de qualquer maneira fora de sua ordem, tirou o chapéu estilo cartola da cabeça e se levantou. enquanto andava pela sala que não era dele, se dirigia à cozinha para roubar qualquer coisa da geladeira que também não pertencia a ele e me perguntou novamente com outras palavras, a voz que sempre me atingia com graça dessa vez passou como um vento gelado pela minha espinha:

"parece que simplesmente você plnajeou tudo, escreveu num caderninho e disse 'isso acontecerá, tá escrito', você fez isso?"

"para de alucinar e vamos terminar de discutir a cena aqui, por favor."

deixei qualquer coisa de lado e voltei a organizar os papéis sobre a mesa. barulhos de pratos, talheres e passos que voltavam para próximo de mim.

"você perguntou se podia pegar tudo isso?

"ele disse que tudo bem, você não ouviu? a gente tá trabalhando pra ele, sossega."

"está bem."

"toda vez que você fica defensiva, você só quer comprar briga"

"para de cantar"

"ha! você conhece essa né?"

"claro!"

"então responde, você programou isso tudo?"

"eu não. te juro"

ele já estava com a boca cheia de algum tipo de sanduíche que tinha preparado e eu perguntei do que era, ele falou simplesmente que eu odiaria, "tem carne".

"e já que você tá mentindo pra mim não merece comer nada!"

ele olhava e sorria. boca cheia é uma de suas qualidades. adora comer. eu anotava, relia, e pensava, mas os olhos dele não paravam de me atormentar. e o sorriso como se pensasse, "eu sei, eu sei, não precisa fingir".

"está bem, você quer ouvir que eu SEMPRE quis isso e você SEMPRE esteve nos meus planos?"

"claro!"

"então pronto, é verdade! satisfeito?"

"quase..."

"o que agora?"

"termina! fala tudo!"

"que eu tenho sérios problemas mentais?"

"não!"

"emocionais?"

"não... peloamordedeus"

"óquei, que você sempre fez parte da minha vida"

"amen to that sister!"

"feliz?"

"sim..."

e o resto do dia correu produtivo, do jeito que tinha que ser. e desde aquele minuto, e durante todo o dia ele me manteve tão próxima que era como se ele também tivesse planejado aquilo, planejado ter me encontrado, em algum momento, em algum dia desses de frio insólito.


***