30.4.09

exercício



"eu escrevo com uma urgência que me força a colocar minha própria essência contra a parede, e quando noto que estou chegando na última linha ainda em pleno exercício de todos os meus sentidos vitais, entro em profundo desespero. isso acontece porque quero escrever aquilo que vem e o que vem é sempre assustadoramente íntimo, presencio a irregularidade tão minha vir à tona como água suja transbordando pelas ruas. assisto enquanto essa inundação toma conta de casas, transeundes desavisados e carros velhos que por descuido de donos tão instáveis quanto eu deixaram os pobres amontoados pelas avenidas. quando percebo que estou ciente do que fiz entro em pânico, e isso porque sempre acho que na última letra digitada ou rabiscada, todo meu eu será largado ao terrível destino daqueles que entregam seus corações ainda cheios de sangue ao mensageiro. assusto minha própria falência e meus olhos ainda ávidos toda vez que percebo que derramei minha saliva e sangue sobre aquilo que antes era branco e vazio feito o nada e mesmo assim, mesmo assim ainda me encontro aqui - de alguma maneira, estou aqui. "