16.10.06

pai, se eu escrever no éter, você lê?

"é, a manhã corrói a alma!
lembra do filme bom de ontem?
e da chuva na janela...
a respiração forte que embaça o vidro
a cama quentinha, sobre ela o cobertor desarrumado
o café com leite esfriando na cabeceira
paizinho rezando a cantiga dele, toda dele
o rádio baixinho que canta fininho no meu ouvidinho
o cheiro de pão fresco, a manteiga, o polenguinho
mas o som, ah o som corrói a alma!
faz querer mais de você, que já se foi
faz querer mais de quem nada tem a ver
com o que fez você sofrer...
'é tudo da sua cabecinha de menina'
antes de ser mulher, fui ninfa
fui moleca sem saber que tudo aquilo passava
então reclamava, mas sabia do valor alto
do carinho barato daquele que me amava
mais que tudo...
esse som pesa, nos ombros, na boca, no narizinho que a mãe falava que era do vô...
.
e quando eu tiver meu amorzinho pra impregnar com o docinho que você deixou pra mim vou lembrar de ti em cada dia azul e cinza também, vou fazer da música, café com leite e pãozinho quente, pra todo o amor do mundo cair sobre a vida que brota de mim e que um dia brotou de você. vou ser você e você vai viver pra sempre no rebentinho dessa filhinha sua..."