12.10.06

do mundo que fez vida

foi dada à terra a sanidade e a solidez da natureza, a vida imersa em salientes formas, a rigidez das regras e das entregas, foi abençoada com a paciência daqueles que sabem que tudo há de nascer, crescer e no fim se entregar à morte tranquila, como um novo ciclo que se inicia... foi dado ao ar que nos cerca a certeza do incerto, a vida volátil, a virtude do tempo... o cheiro de liberdade que engradece a colheita, o beijo bom da primavera e a mão pesada do inverno, trazendo o impulso do mundo que não vemos, trazendo a beleza dos cabelos e das folhas ao vento... à água que nos entorna tem a vida do mundo nas mãos... tem a força descomunal do universo em cada molécula que pode curar ou fazer desabar, que põe o planeta a tremer ou a florescer... ela escorre no corpo e também faz escorrer... nutre a pele e também faz adoecer... a água é o elemento mais desvairado e por isso o mais abrangente, o mais lúcido e louco de todos. o mais sábio e o mais demente... do fogo foi feito tragédia, foi feita a paixão pra instituir guerras, em nome de santos e em nome de guirlandas de natal... ao fogo foi dada a virtude da ação contínua, por onde passa deixa marcas profundas... mas também é pura convardia. corrói quem o teme, mas foge quando chega o momento de enfrentar quem é mais sábio que ele... no fim tem o éter. que sabe-se lá como é pai de todos e filho também. que observa tudo e respeita a estupidez e a inteligência de cada um de seus amigos, de seus amores e de seus inimigos, trazendo a vida de volta quando seus irmãos instalaram o caos e a trepidez... o éter é etéreo sim. é puro. é cortês. é aquele que se apega tanto que não sabe viver sem terra, ar, água e fogo e por isso implanta a dependência em todos eles... o éter é o coração que chora e que ri e que por algum truque do destino criou o destino de tudo que é vivo...
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o éter criou meu destino.