19.7.06

um poema pra qualquer um

você não é meu pai e nem mesmo é a pessoa que gostaria de ser
você não é meu filho, não é meu amigo e não é minha irmã favorita
você não passa pelo crivo de quem não quer viver para mudar e mudar para viver
você não entende o que é mudar
e você não para para entender, muito menos para ver
você não vai até o fim porque o fim não é seu modo
você não corre e não tenta porque no fundo você não pensa
e talvez porque você não pensa você também não sente
você não sente.
você não pesa e por não pesar você nunca saberá...
você não é o filho de neruda
e não é filho de dylan, de burroughs ou de kahlo
você não é filho de berlin e não é irmão de havana
você não é filho do rio e não é amigo de bukowski,

não é primo de lispector nem irmão de algum smith...
você não quer o fardo de dizer que "o que é meu é nosso" e "mi casa su casa" porque você não quer ser quem você sabe que é
você não fede e não cheira
você não quer e é bom que nem queira
você não se lembra do que fez ontem com medo do que irá fazer amanhã
porque você não quer sair da tua jaula
você não quer ir além do seu jardim
e não quer ser feliz
porque felicidade, você diz, não é o que importa
você não vai, meu bem, ser o meu bem
você não é e não foi o meu amuleto, a minha sorte
e você não quer ser o sortudo porque você não crê
você não quer ver a roupa colorida no varal
porque o vento bate muito forte e você não quer friagem

você não quer perder
porque nunca te ensinaram a ganhar
e você não quer sentir o vento no cabelo dirigindo a 140 quilômetros por hora porque você acha que o mundo é mais do que isso...
você não quer entender que o que você faz é vegetar
e você não quer sentir seu sangue quente
e não quer sentir seu coração na corda bamba porque afinal
você não quer porra nenhuma.