14.8.09

o gênio e a deusa






"Wallowing in the past may be good literature. As wisdom it is hopeless."
- Aldous Huxley

Logo após a morte do meu pai, encontrei um livro velhinho e gasto, amarelado e cheio de anotações em uma de suas estantes. Um entre tantos com as mesmas características, com as mesmas formas e cheiro de biblioteca do papai. Mas esse livro que peguei com gosto e curiosidade me marcou por ser talvez o único livro de toda a sua extensiva coleção totalmente em sua língua original: o inglês. Papai não sabia inglês, ou melhor, não queria aprender o inglês. Viveu uma boa parte da sua vida na França, Portugal e Itália, viajou por toda a América Latina dando palestras mas nunca se atreveu a tocar um pé nos Estados Unidos, e por muito tempo sofreu pelo meu sonho de acabar exatamente onde estou... Enfim. Esse livro me chamou a atenção por ser contra absolutamente tudo que meu pai parecia ser... até aquele momento. O livro antigo e cheio de história agora acabava em minhas mãos, essa menina de catorze anos que já falava inglês e devorava essa língua como também bebia café com leite com pressa pelas manhãs, assistia filmes de hollywood como se fossem histórias escritas por ela mesma e adorava a música como se adora a algum deus distante porém eternamente presente. E agora esse livro ali, quieto e absolutamente barulhento, não parava um segundo diante de mim sem me implorar por sua leitura, por seu entendimento e lá fui eu...

The Genius and The Goddess de Aldous Huxley se transformou ali em minha obra favorita desse autor, mesmo depois de tanto trabalho sobre Brave New World.

Não é a toa que amo tanto essa história...

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*foto: papai e irmão.