13.8.08

If Only - quinta parte

aqui esta a quarta parte.

era uma segunda- feira de manhã e camille já se irritava com o trânsito de manhattan. ao pegar seu celular percebeu que tinha duas chamadas perdidas, mas não quis ver quem era. ela tinha que pegar chave de seu novo apartamento no brooklyn com henry que infelizmente estava no centro fervilhante daquela metrópole multi-facetada.

o telefone toca novamente.

-alô.
-alô, senhora gallardo?
-meu sobrenome é galhardo, mas eu não sou senhora!
-desculpe! a senhorita é camille galhardo?
-sim, posso te ajudar com alguma coisa?
-eu sou a secretária do sr. jones e ele pediu que eu entrasse em contato.
-ah! está bem.
-você já está na cidade?
-infelizmente sim!
-ah, ok, ele pediu pra você parar no Abigail Café.
-e eu sei lá onde isso fica! ce pode me dizer?
-ah, claro... um instante.


camille ficou nervosa com a demora e muito mais com essa mudança de planos.

-senhora galhardo?
-já morreu!
-ah, desculpa!
-não se desculpe! me diga, onde fica?
-é próximo do jardim botânico...
-no Brooklyn!?
-sim!
-mas que raiva! eu to quase no centro!
-ah ok, senhora, preciso ir. qualquer dúvida você pode ligar no celular do sr. jones.
-mas!
-até mais!

a secretária desliga o telefone deixando camille mais do que indignada! "alguém tem noção do preço da gasolina, caramba?", era tudo que ela pensava. dirigiu relutante para o brooklyn e depois de quase duas horas de transito e confusão nas ruas, conseguiu achar estacionamento.

ao entrar no café, camille ficou maravilhada com o local. as paredes de tijolo quase sem acabamento, os detalhes dos móveis, todos antigos e muito bem cuidados. num canto em uma mesa pra dois estava henry. ele lia algum papel que parecia importante. a sua frente uma caneca também antiga cheia de café, intacta. "a cara dele... até finge que toma café..."

-camis!
-henry!
-sente-se aqui.

ele se levantou e puxou a cadeira pra ela, deu um beijo em seu rosto e a olhou com carinho segurando seus braços que de tão cansados pareciam se derreterem nas mãos enormes daquele homem que parecia delicado, mas não era. ele pediu o que ela adorava, espresso com leite, raspas de laranja e uma água com gás em copo de vidro.

-você sabe mais de mim do que eu mesma!
-você não quer comer? eles tem um cardápio ótimo.
-ai, não agora. o café é tudo que eu quero.
-ótimo...
-esta tudo bem?
-tudo muito bem.
-me diga uma coisa...
-manda!
-porque ce me fez vir ate aqui! a gente tinha hora marcada lembra?
-eu sei camis, mas e que eu já tava por aqui, meio que fiz você vir ate mim!

ele ria e sua gargalhada a deixava um pouco encabulada, como ela pensava sempre? ah sim, gargalhada que a lembrava do seu avo perverso, um antigo general que mal olhava na cara dos filhos... ela havia contado essa historia para henry há muito tempo atrás e ele disse que se identificava com a distancia que seu avo tomou do mundo. era bem real esse tema na vida deles, eles tinham em comum essa angustia de estarem em um mundo que nunca os compreenderia, que nunca os abraçaria... mas nessa estranheza mutua eles se encontraram e agora seriam parceiros de crime.

a garçonete traz o café de camille e sai cautelosa, reconheceu os dois logo de cara mesmo sendo nova no restaurante.

-então camis, você viu o protesto no outro dia né?
-ai henry, eu ia dizer isso! o que foi aquilo que ninguém me contou?
-o steve não te ligou?
-sim, ligou mas na hora que o negocio aconteceu!
-bom, foi assim, nos estávamos todos no ape dele que é um verdade iro chiqueiro, eu já entrei xingando, não precisa ser porco né?
-ai henry para! vai pros finalmentes.
-ok. então, a gente estava la, steve, eu e um bando de maluco, atores, jornalistas, músicos, enfim o lugar ideal pra se brotar ideias. acontece que o steve juntou todo esse povo com a desculpa de fazer uma festinha particular, mas queria mesmo era instigar esse pessoal com calibre pra falar contra os ataques que já começaram a acontecer no ira.
-a cara dele.
-sim!
-então?
-então ele deu bebida pra todo mundo e foi falando as ideias dele assim alto como se fosse um nero. eu entrei na conversa porque você sabe o quanto eu fico louco com esse assunto.
-sei.
-então a gente foi falando, e de vez em quando alguns se mobilizavam e falavam o que achavam também, ate o steve ficar com aquela cara de que vai engolir o mundo e dizer que não tem jeito, nos somos formadores de opinião, somos quem molda a cabeça de muita gente...
-concordo.
-e precisamos abrir o bico.
-concordo em genero e grau.
-sim, sim... eu também.
-e dai decidiram assim do nada?
-sim! ha!
-achei que fosse algo mais organizado!
-ah, mas foi! o steve mobilizou muita gente de outras cidades também, ou melhor, uma galera angelina e san franciscana!
-ha! henry, você é uma comédia!
-você também querida...


ela sentia falta dele. eles eram colegas de elenco em programa de humor que faziam parte os comediantes das mais variadas áreas do pais. ele era de washington - a cidade-, ela de portland e foi a partir dessa série de humor que os dois ficaram famosos e talvez por alguma coincidência, viraram os que mais se deram bem ao saírem da emissora que os lançou.

eles se despediram na porta do restaurante só depois de ele ter entregue a ela a chave do seu novo apartamento, que era quase todo mobiliado e pronto pra ela morar. estava frio e ela correu pra dentro do carro tentando esconder o rosto do vento gelado que fazia arder a pele. procurava nervosamente a chave dentro da bolsa mas por algum motivo não encontrava, "será que larguei no café?", estava ficando aflita, o frio estava a incomodando e parecia que havia uma pressão psicológica para que ela desse lugar para alguém que tentava estacionar. ao se voltar novamente para o café, quase com um pulo derrubando a bolsa e a fazendo corar de susto, deu de cara com steve que tinha a reconhecido e caminhava em sua direcao sem saber da mudança abrupta de rumo que ela tomara. os dois se assustaram e uma onda de calor tomou conta das bochechas de ambos, os deixando em uma mistura de espanto e alivio por ser um susto, mais nada.

quase sem voz e sem fôlego ela disse:
-steve! eu nem tinha o visto atrás de mim!
-eu estava indo falar alguma coisa até a hora que você virou do nada!
-ai...

retomando o fôlego, os dois deram risada e ele pegou a bolsa dela do chão. já refeito e cheio de zelo, perguntou se faltava algo, preocupado com que na queda algo tivesse se perdido de dentro da bolsa.

-não.. esta tudo aqui! menos a chave do carro, preciso voltar ao café que estava com henry a pouco...
-vocês estavam por aqui juntos?
-sim! acabei de chegar de portland.
-deve estar cansada... viagem longa.
-sim, muito! você esta com pressa?
-não! não mesmo..
-quer vir comigo rapidinho ao café?
-sim, vamos la.

os dois caminharam juntos e ele tinha tanta confiança nela que parecia que sabia o caminho, só por seguir seus passos.

ao chegar la, a garconete que havia a atendido já estava aflita com as chaves nas mãos.

-achei que a senhora não fosse perceber!
-ai querida obrigada viu, eu to cansada!

triste por ter sido chamda de senhor, camis pegou a chave, deu uma nota de cinco dólares para a menina que havia cuidado de suas chaves e puxou o braço de steve para fora do cafe. gostava de dar gorgeta e sair rapidinho, ficava envergonhada de ver o garcon agradecer... sentia que so fazia o minimo.

la fora, já com a chave e de frente para o carro ele perguntou para ela pra onde estava indo.

-pra minha nova casa! os cachorros já estão aflitos no carro, não sei como ainda tem algum amor por mim!
-precisa de um guia?
-ah... - ela não sabia o que responder. estava óbvio que ele queria ir pra casa com ela, mas estava genuinamente cansada, os seus pés formigavam e a cabeça latejava de dor, não era hora pra eles se entenderem. - bom, steve, se você não se importa, poderíamos fazer algo mais tarde... ou amanha, sei la! to muito, muito, muito cansada!

ele sorriu não como quem sorri encabulado, mas sorriu certo de que ela estava mesmo precisando de um tempo.

-vai la... nos falamos depois.
-ai, obrigada!

ela o abraçou por impulso, depois se arrependendo ao mesmo tempo que aproveitando cada segundo daquele abraço forte dele e do cheiro bom do seu cabelo.

ele abriu a porta do carro pra ela que partiu em rumo ao seu prédio.

ao chegar no apartamento e colocar seu casaco e gorro nos ganchos proximos a porta, olhou o vazio daquele lar com ar de que ainda não é, perfeitamente organizado e tão não a cara dela, e pensou que bem que poderia ter um amigo perto...




CONTINUA...


*foto de leonardo wen