24.1.08

ai, eu te amava tanto, pra onde você foi?


-eu disse que quando aprendesse a navegar, eu trazia você pro meu lado...
-mas você nunca me chamou!
-é porque eu ainda não aprendi!
-e você nunca mais vai ter tempo pra aprender?
-não sei... a gente não sabe nada depois que tudo acontece... fatos são pesados...
-carregam mais do que deviam...
-carregam nada, fatos são idos, inventados!
-são reais.
-não...
-onde você aprendeu isso?
-morrendo...
-pra que então? pra que tanto esforço?
-pra nada...
-nada?
-não te disse que quando aprendesse a navegar, te traria pro meu lado?
-sim...
-aprendi, pois sou só eu nesse mar e a música que toca é só minha... você não quer vir morar comigo, é uma imensidão de nada que preenche o vazio sem sentido que vivia...



é uma mecha de sonho, um arrepio preso, um soluço. em dois passos, não sei nem como foi, em um passo, talvez até dois ou três e o mundo parou. o sol soluçou, eu disse que ele soluçou? prendeu numa roda o vazio, o vazio parou e eu escorreguei, aprendi a tecer veia e céu num calabouço escuro, eu me encurralei. prendi o cinto, eu chacoalhei o véu e tudo que caiu foi mel de lábios azuis, de um corpo gelado em um banheiro escuro, de um terreno azul...


é o adeus.

adeus.

adeus, adeus, adeus...