11.7.07

Não são Caim e Abel

A princípio era tudo uma grande farsa.

Ele tinha olhos pálidos como era pálida a pele. Seus sonhos eram todos sem contorno, como se tudo possuísse conteúdo sem uma forma específica apenas uma aura mutável.

Infelizmente ele não era seguramente um anjo ou um demônio nessa terra seca, não. Ele era tempo. Como o tempo dita as regras ele contava como queria a decoração do seu mundo. As cores eram todas muito variadas, mas em nenhum lugar era encontrado algum traço de verde, o verde não o apetecia.

Seu irmão mais velho gostava muito de verde.

Seu quarto todo tinha os detalhes em verde. As cortinas verdes cor de mar que sua avó havia feito para ele antes de morrer. As roupas todas com todos os tons de verde que ele podia encontrar nas lojas mais simples da cidade. Ele amava aquele lugar com todas as suas forças, talvez porque a cidade em si era bem verde. Cheia de pontos arborizados e... verdes.

Os dois irmãos tinham algo em comum além do fato de dividirem o mesmo sangue. A paixão por coisas arredondadas. Na porta do quarto do mais novo tinha uma roda pendurada com o pneu murcho. Na porta do quarto do mais novo um oito pintado de verde.

Quando os dois sonhavam com a mesma coisa nunca chegavam a um consenso pois odiavam o gosto para as cores que cada um tinha. Eram verdadeiramente irmãos revoltados.