21.10.07

eu experimento o futuro e você só lamenta não ser o que era...

"eu me ofereço inteiro e você se satisfaz com metade... "
senhor paulo moska


Ai!
Eu descobri que não sei falar sobre coisas normais.

As pessoas aparecem pra pedir algo e começam a conversar sobre a onda de ventania na cidade, sobre como é bonito em parque tal, sobre como devemos ser pessoas ativas no mundo, sobre carros, bairros, neve, sol, Brasil, sobre café e qual café é o melhor... sobre TPM, sobre homens e como eles são problemáticos, sobre como na verdade nós "mujeres" somos o problema, sobre milhões de outras coisas que me dão um nó no peito cada vez que preciso abrir a boca pra responder algo, qualquer coisa...

Não sei falar sobre qualquer coisa que seja cotidiana. Não sei ser cotidiana, não sei simplesmente ser sem olhar em volta e me sentir assim tão eu que até dói! Ver certas coisas em certos lugares com os olhos que eu tenho, sentir as pessoas com as mãos que eu tenho, entender jeitos e manias assim, da forma como eu entendo. Não sei o que fazer, não sei como abrir a boca pra falar dessas coisas, entende? Pra responder com uma frase básica "tudo bem" quando alguém pergunta "como você está?". Não sei! Não dá pra eu ler revistinha de mulher que fala de roupa tal, de como a Britney tá gorda, de como o mundo tá podre. Não sei ouvir notícia de deputado, vereador, governador, presidente e o escambal assim de graça, não sei, eu sei demais de pessoas e do que elas qurer pra falar sobre tudo isso, é tudo tão óbvio pra mim...

Cheguei a acreditar que eu tinha uma doença, uma sequela de alguma queda de quando eu era muito pequena ou do susto que eu levei do cachorro velho e doente do meu pai quando eu tinha uns cinco anos, mas não é nada disso. Eu sei fingir ser normal e até consigo conversar "normalmente" com as pessoas, mas aqui dentro o negócio é outro, o negócio não é negócio, dói demais quando é negócio, dói demais quando é por ser e o desespero é imenso quando penso a respeito porque não encontro muitas pessoas olhando pra mim do jeito que eu olho pra elas. Quando eu respiro fundo e percebo isso eu perco não só o fio da meada, mas toda a vontade de correr atrás da história perdida e do tempo... do que chamam de tempo. Eu sentei na frente dessa tela querendo falar do que é normal, contar como foi um dia, como me sinto a respeito dos "punks espancando adolescente no centro de São Paulo", prestes a ser alguém quase básica.

Não deu.

A impressão que tenho é que é mais fácil eu aceitar esse fato e seguir em frente, assim como se estivesse em uma manhã qualquer vendo alguém chorar por leite derramado enquanto eu seco a sujeira com um paninho dando o meu melhor sorriso, explicando pra criança que isso acontece mesmo...