11.9.12

Em vez de tuitar, bebo água


E por onde anda a necessidade se a vontade se confunde tão facilmente com carência? Não sei entender muitas das coisas que faço ou deixo de fazer e por razões talvez excêntricas, abandonar uma plataforma como o twitter não foi algo simples; e nem um pouco difícil.

Pois é.

Hoje, toda vez que senti qualquer vontade de voltar ao twitter, decidi beber água. É isso mesmo. Cada vez que tentava achar um substituto de 140 caracteres, eu parava tudo e bebia mais alguns goles d’água. Talvez, substituição não faça a diferença e tuitar em si não mude absolutamente nada mas, a sensação com que eu contava não apareceu. Sempre pensei que aprenderia que abandonar algo que faz parte da sua rotina por anos é no mínimo, brutal, mas o que eu descobri foi que abandonar aquele meio feed meio novela é, no máximo, como abandonar um par de botas baixas que funcionava bem com leggings mas que não dá conta do recado em dias de chuva ~

4.10.11

Brando, Hardy e Warrior e o que todos eles tem em comum


Tom Hardy. Why so foda?

O ‘Brando Britânico’, é como chamam esse rapaz de torso bem desenvolvido, dentes esquecidos e olhar pouco convidativo.

Homem desses que nos força a esquecer o que era mesmo que estávamos assistindo, mesmo que por poucos segundos. Vira e mexe odiamos sua presença pouco confortável. Entre uma lágrima e um suspiro bobo, uma vontade de se retirar do cinema. Moços como o Hardy possuem esse estranho charme seco que por pouco não cancela o que é prazeroso de se examinar.

Homens sentem-se compelidos a acreditar no que ele esconde. Mulheres sentem-se atraídas pela forma como ele permanece longe de qualquer atenção especial.

Aquilo tudo é ele mesmo.

Um monumento de carne e osso todo rabiscado presente ali, inteiro na tela. Relutante e brilhante em uma só sentada, sem dó de quem nunca poderá chegar perto. Sem pena alguma por quem não pode sequer encontrar alguma saída para essa ilusão de homem criada durante uma hora e meia de... filme bonito.

Ah... suspiros.

O Brando fazia isso, do jeito todo grosseiro dele. Hardy faz o mesmo, com um cinismo tão calculado que beira a autonegligência. A impressão que fica é o que a realidade teima em esconder: ele é perfeito.

Como Brando era perfeito.

Por uma hora e pouco, esse homem de sonho inferniza nossas cismas. Bruto e sem arte, real e hábil como todo homem em sua essência deveria ser. Ah Tom Hardy, porque tão homem? Tão sem brilho e tão cruel.

Minha vida e muitas outras por aquilo que tormenta suas ideias. 

(Isso tudo pra dizer que o filme ‘Warrior’ vale muito a pena. Tenho dito.)



1.10.11

nada se perde (nem se ganha)


~

Pensei que sentiria algo. Qualquer coisa. Um toque de arrependimento ou de raiva ou qualquer negócio semelhante a algum dilema moral, algum carinho pendente, um resto de ego ferido, um tal de desejo mal resolvido... mas não. Não sinto nem senti absolutamente nada.


Nem um sopro de alguma coisa que jamais irei compreender. Um frio qualquer.


Nada.


Enquanto imaginava que conhecia a raiz dessa paixão de ocasião, pensava também ter certeza absoluta dos rumos que tais histórias tomariam. No fim percebi que nem a raiz nem o intuito da questão estavam sob o meu controle, mas nem por isso o mundo perdeu seu tom vermelho, nem minha terra perdeu o gosto de sonho, nem minhas palavras perderam seu volume imperceptível aos mortais com ouvidos destreinados.


A dor poderia ter sido aguda, a brutalidade uma forma de colocar tudo de volta no seu lugar, mas a verdade é que nada do que aconteceu me fez sentir qualquer coisa além de...


Um grande nada.


Tempo perdido? Nunca.


Tempo. Sim.


Tempo mal investido? Não. Tempo. E por coisas dessas como o tempo, baseadas em teorias quase frustradas nós não perdemos o sono. Muito menos a piada. Muito menos o texto hermético, esse tal desse mundo de palavras cruzadas. Não perdemos nada não, nem ganhamos.


Chegamos a alguma conclusão? Não. A algum método mais eficiente de se viver a vida? Definitivamente não. Chegamos ao fim de algo que nunca foi e a esse fato brindamos, porque a vida é cheia deles e nem por isso o vento lá fora para de protestar.


~~


25.9.11

doubt not, I love


doubt thou, the starres are fire,
doubt, that the sunne doth move:
doubt truth to be a lier,
but never doubt, I love.




Suas mãos.

Já serviram como ponto de referência, como memoria repleta de utilidade em momentos custosos. Como certeza de algum tipo de tranquilidade que antes da certeza de você, não poderia jamais existir.

Enquanto um mundo preocupado com aquilo que não parece ser mais do que um mecanismo sem forma nem motivo, eu sou o que sou porque conheço o valor dessa certeza insolente.

Tamanha perfeição irresistível: suas mãos. Sem origem nem final escrito em lugar algum além de uma memória fiel ao seu dever. Elas falam e que sigam falando só para mim, o mundo não liga. O mundo só ouve aquilo que quer ouvir, essa verdade é o que é e por isso repito...

Suas mãos. As mãos que todos decidem não ver e que são minhas por direito. São tudo o que jamais tive e nunca mais precisarei esperar para tocar.

~

Sentido - Cadê? Perdido na mudança.







22.9.11

Scorsese, John Lennon, Jung e eu


Eu. Duas letras que não querem dizer absolutamente nada. A diferença entre o E e o U é responsável pelo conteúdo. É como se tudo começasse com inúmeras oportunidades e terminasse num retorno forçado.
Pois bem, eu.
Tenho mil manias mas não conto, aliás conto tudo. Pessoalmente. Lembro da minha mãe tocando Debussy e choro copiosamente, toda vez. Enquanto chove consigo ver como num filme a mão de pele morena escura cheia de veias, cheia de manchas enormes e dedos fortes, longos e precisos do meu pai segurando a minha mão de criança, olho para baixo e vejo os sapatos impecáveis pisando em poças intermináveis, sinto até o cheiro dele. Toda vez. Tomo café o dia inteiro. Não é por falar não, é verdade.
Precisaria que o mundo entendesse minha necessidade de escrever tudo em forma de carta. Prefiro o John Lennon, mas isso todo mundo sabe. Prefiro também o Keith Richards, isso nem todos sabem. Entre Beatles, Rolling Stones e Pink Floyd, sou Beatles e de vez em quando Rolling Stones, nunca Pink Floyd. Eu curtia a Ginger Spice. Meu primeiro filme favorito foi ‘Garotos de Programa (My Own Private Idaho)’, tinha dez anos. Meu segundo filme favorito foi ‘Basketball Diaries’ (não lembro em português). Doze. Meu terceiro filme favorito foi ‘Clube da Luta’ e minha lista termina por enquanto.
Minha primeira paixão louca foi por um professor – insira a palavra correspondida aqui. Calço trinta e nove. Sou um metro e setenta de pura e total insanidade, agora sei bem. Sou flexível e danço, o tempo inteiro, até quando parece que estou só aqui sentadinha. Não acredito em se ter alguém. Acredito em paixão e no meu caso ela não morre. Não acredito em deus. Não acredito em nada, só sei de coisas variadas. Sei porque sinto que é, não porque a lógica permite. Não sou da lógica mas sou a pessoa mais justa que você jamais irá conhecer.
Sou fisicamente forte. Mesmo. Já me livrei de homens tentando me segurar a força, se é que você me entende, já peitei PM coxinha sendo racista/sexista e sempre ganhei. Já passei por incêndio e acidente de carro. Já servi de segurança pra amiga minha em show lotado. Nunca fico doente. Sou daquelas que causam revoluções por pura convicção romântica, no fim sempre me dão razão. Sou romântica, de verdade – romântico, adj. relativo a romance; poético; fantasioso. Ficou decidido no alto dos meus quinze anos que eu era a reencarnação do Rimbaud até segunda ordem. Me acho linda mas secretamente me acho um horror.
Sou má, mas sou a melhor pessoa do mundo pra quem amo e às vezes amo a pessoa de cara, sem motivo aparente. Vivo em Hollywood num prédio dos anos vinte. Fantasio a respeito das inúmeras meninas platinadas que tentaram a sorte e que por algum tempo aqui viveram. Sei de histórias. Algumas foram embora, outras deram certo. Muitas morreram de forma trágica. Hollywood é filme noir, constantemente.
Adoro dirigir, odeio que o mundo ainda usa petróleo. Amo o oceano de tal maneira que preciso ficar longe por medo de num momento de loucura querer ‘retornar’ pra dentro dele. Golfinhos aparecem pra mim o tempo todo quando estou na praia, mas ninguém nunca parece notar. Tiro foto pelo momento do ‘ah, isso sim vale a pena’. Geralmente odeio gente, principalmente gente muito barulhenta. Odeio quem usa perfume demais e/ou de menos. Gosto de homem com barba, tenho desejos insaciáveis por bocas que nunca irei beijar, rasgo cartas e sempre jogo metade numa lixeira, metade em outra. Mania. Uso muito preto e flanela. Parei nos anos noventa. Compro livros de uma maneira doentia, meus melhores amigos são mulheres mais velhas do que eu ou homens que já me amaram. Uso bota e converse. Só.
Não gosto de esporte nenhum mas secretamente sei regra de tudo. Assistia corrida feliz com o meu pai todo domingo de manhã. Amo muito meu irmão. Se ele morresse não sei mesmo o que seria da minha sanidade mental. Muitos diriam que sou desequilibrada e deveria ser internada mesmo fingindo bem ser uma pessoa sã.
Odeio iPhone, prefiro blackberry. Odeio Steve Jobs mas tenho um Mac. Amo Scorsese, odeio Spielberg. Imaginei o Johnny Depp enquanto lia ‘The Rum Diary’ e deu certo. Sempre me imagino como a moça da história em qualquer livro que leio, mesmo em biografias. Sou tarada por homens que escrevem bem. Julgo todo mundo pelas mãos e nesse caso a exceção não confirma a regra. Suas mãos confirmam tudo o que eu sempre soube, meu caro.
Sou Jung e nunca Freud.
Sou estranha.
Sou fácil e extremamente incompatível. Sou.
Tenho dito. ~~


1.9.11

do caderno.






É isso e mais um pouco disso.

A competência dá lugar ao vazio. Esse tempo é aquele tempo que não volta mais, mas você não consegue fazer com que o outro sinta a mesma urgência.

A mesma exatidão da vontade que você sente.

Não é fácil, mas ninguém algum dia disse que fácil seria o meio.



23.7.11

diálogo - e daí?



- Oi. 
- E aí?
-Que foi?
-Que foi o que? 
-Que foi?
-Num foi nada.
-Mas…
-O que?
-Tem cert…
-Você perguntou o que foi 
-Isso
-E eu falei que num foi nada.
-Pois…  sim, claro, eu sei.
-Então.
-Mas eu não..
-Não to entendendo.
-Deixa.
-Deixa o que, putaqueopariu
-Deixa que eu não quero mais saber.
-Mas saber o que?
-O que foi.
-Mas num foi nada, paputamerda!
-Tem certeza?
-Tenho.
-E como eu sei?
-Você me ouve, não consegue ouvir?
-Para de ser assim, não precisa dessa grosseria!
-Precisa do que? Você ta ficando um chato, velho
-Eu?

-Eu que to chato?
-Isso.
-Mas eu te conheço…
-Sim, e?
-E sei que você tem coisa aí…
-Coisa aí? Tipo…
-Tipo coisa que você quer falar.
-Ah sim.
-PORRA!
-O que?
-Mas porque falou que não tinha?
-Mas não foi isso que você me perguntou, criatura!
-Eu preciso ser óbvio?
-É o mínimo, ou num é?
-É?
-Claro!
-A deixa pra lá.
-Não quer mais saber?
-Não, cansei.
-Beleza.
-Tchau.
-Até…
 

-Hei
-O que foi?
-Pergunta denovo?
-…
-Por favor.
-…O que foi? 
-Sei lá, to triste.
-Eu sei que você tá.
-Ajuda eu?
-Não sei como.
-Mas… por quê?
-Porque eu não to bem também ué
-A gente tá tudo fodido, é isso?
-Tamo
-Foda.
-Uma merda.
-É.

~~ 


20.7.11

ultimo dia de brasil, yet again


then you feel small, as tiny as the car down the road; and all the things you so firmly believed yesterday turn into somebody else's words.’ errr... myself.



O eco sempre me pareceu ainda mais insuportável do que o grito.

O pânico causado pela repetição da impressão do sofrimento.

A revolta que sinto quando tudo o que mais espero é que o fim chegue rápido; um fim que tenha gosto de fim na boca, porque o grande problema de tudo aquilo que tem começo é a falta de um ‘the end’ para que os créditos rolem.

-mas os créditos nunca rolam.

Esse é o mal de quem assiste filme porque gosta de chegar ao fim com algum gosto na boca, alguma conclusão emocional no peito, alguma lágrima no canto do olho; esse é o mal de quem se aborrece por não viver aquilo que foi prometido.

-mas a promessa foi ilusão que você criou. alguém te prometeu algo de fato?

A ilusão. A luz que dança diante da tela. O mundo é bonito visto daqui e é ainda mais bonito porque tudo acontece sem a nossa interferência. Bonito e triste.

O tal do eco.

A repetição e a insistência daquilo que te atormenta quando o grito era tudo o que você precisava. A tal da falta de coerência.

Mas a gente segue assistindo o filme da poltrona. Mãos indecisas sobre pernas nervosas. Talvez assim, logo que os créditos começarem a rolar, irei notar que o assento do meu lado tem dono e que, assim como eu, tudo o que ele precisava desde o começo era de um pouco de tempo.

É. Talvez.


30.6.11

das cartas que não foram: dallas, tx.





Will,

Aqui os dias são eternos.

A luz parece que corre sem medo por detrás da terra enrugada que, sem descanso, responde preguiçosa, fique mais, fique pelo tempo que for... Você tem tanto o que fazer por aqui.

Sim, o sol tem tanto o que fazer por aqui, mas eu não tenho não e não terei até a hora de você chegar. Nesses dias em que os dias são eternos, as noites são curtas e respondem rápido. A reação é sempre a mesma: recolha-se. Ele já vem.

Pois eu nunca ouvi isso dos teus lábios, meu amor

Você já vem, acredito. Com o vir trará qualquer coisa parecida com culpa, creio eu em minha infinita bondade quanto à sua pessoa. Trará também uma indecisão digna de alguém frágil escondido num corpo cheio de peso de homem do tamanho certo. Trará fome e carne, tudo no mesmo pacote. Trará o que sobrou de mim de volta para o berço. O começo de tudo. O seu começo.

Eu aqui vivo por você e espero diante de uma janela generosa demais. O sol dessa terra ri de mim enquanto a lua espia com pouca vontade. Enquanto o tapete estiver torto e o quadro um pouco manchado, as velas mal arranjadas e as flores levemente murchas, essa terra continuará a esbanjar dias eternos.

E, devo perguntar, como viver dias eternos sem a dedicação abandonada ao momento em que te sacar será como presenciar a grande diferença entre o dia e a noite? Será essa a única realidade que conhecerei? Viver à espera de uma promessa silenciosa.

Eis o peso e o prazer de cuidar de viver mais dias desses dias eternos.

Até que essa o encontre com saúde suficiente para que a resposta seja a sua presença pronta para a minha fome.

E lembre-se, dias de sol são só dias de céus de um azul intenso.

É.


Laura A.,

27 de setembro de 1992,
Hospital Psiquiátrico de Timberlawn - Dallas, TX.



foto daqui.

8.6.11

amor fora de hora





~ Aposto qualquer coisa que ele gosta de mim. Entre um pensamento e outro de absoluto terror causado por algum maldito prazo, aposto que ele pensa em mim.  Entre um diálogo e outro ele deve descrever alguma personagem como me vê e em pânico se esconde atrás do copão gigantesco de chá gelado.

Aposto qualquer coisa que ele é quieto, doce, descabeçado. Que coloca meias de pares diferentes e que usa gravata com aquele moletom com capuz porque nunca percebeu que os dois não combinam. Aposto um mundo que ele morre de vergonha de mim e que para tudo pra prestar atenção no que eu faço até o momento que ele percebe que horas se passaram e nenhuma linha foi escrita. Aposto que nada parece certo. Nunca. Aposto que nada seja fácil. Aposto um milhão que ele gosta de mim.

Aposto que vou perder a vontade de ficar nessa espera. Aposto que ele nunca vai me perguntar nada portanto aposto que nunca irei responder. Nunca vou me atrever a contar que quero, mas não posso. Não agora, não assim, não tão rápido mas que quero.

Aposto que ele não sabe que eu quero.

Aposto que querer, na cabeça dele, seria o suficiente e num mundo perfeito também. Aposto que ele também não sabe que o mundo é perfeito e imagina que, como no seu roteiro, o rapaz vai entender logo qual é a solução para todos os seus problemas: amor. Aposto que comédia ele não escreve, aposto que drama também não seja seu forte. Aposto meu carinho por ele que nada é o que parece ser e no entanto é... porque quero que seja.

Aposto que ele me quer porque eu o quero, não sei como nem onde nem quando nem se isso tem cabimento, mas aposto que todas as respostas cairiam no esquecimento se em determinado momento ele simplesmente dissesse que sim, ‘apostas todas ganhas, Miss Awesome Alice’. O mundo é meu e um milhão de dinheiros também.

Mas tempo com ele é o que quero.

Aposto que logo todo o tempo dele seria também meu. ~