25.1.11

saudade paulistana



Dá um beijo nas criança, tio Mi, um beijo na tia Eduarda, muitos beijos dessa terra etérea. Mande um abraço pra todo mundo por mim, muitos apertões nas bochechas, muitas cheiradas nos cangotes alheios, muitas noitadas nos cafés da vida, muitas manhãs de pão com manteiga na chapa, pingado e suco de laranja tirado na hora... tio, vê duzentos gramas de pão de queijo 

'pra nóis?', 

não, só pra mim. 

Tá tocando O Barquinho, maysa ou elis? Elis. Mas essa eu gosto Maysa.

Que ce quer? Pode me ver um baurú, óquei... proce porque num como carne. Manhê, eu pedi pro moço encher isso aqui de catupiry, me vê mais dois café faz favô, que carioca o quê! Café com leite.

Eu sou a verdadeira café com leite, o leite do seu café. A azeitona do teu requeijão.

Pois esse ônibus tá lotado, 'pega o próximo', não! Preciso estar lá agora! O bilhete tá pra vencer... pula a catraca!

Alice, que bicho do mato você, vai aparecer hoje? Não. Amanhã? Não. Mas quando vamos nos ver? Quando você aprender a gostar de sentar na calçada e beber... café. Breja? Nunca. Cheira e fede à xixi de gato.

Perdi Nietzsche no metrô ontem...

Te encontro no Santa Cruz, a gente pega a sessão das quatro e para pra comer no Bertioga, logo que o cidadão ali resolver se vem ou não vem... por sinal encontrei com u Zé no Tortula, ele tá gordo e bobão como sempre, você viu a Isabel? Continua com aquele quilombo no queixo... para! Vamos parar rapidinho no Rei do Mate?

Copão de pão de queijo!

Cinema...

Cafeera?

Johnny, não tire o dia por nós, a Si não vai aparecer...

E o Mafra? Sumiu, ninguém encontra!

Nóis já vai, e antes vamos pagar de rico no Morumbi?

Vamos, depois de parar no Rei do Mate...

Tarde assim só o Fran's, Nathy 'mas eu ainda to esperando o Chico, Li!'

ai ai, 'Alice vai, continua que eu te espero aqui', porque? Vem comigo! 'ce tá rapida demais pra mim...', eu preciso parar no Brachesquento, vê se tenho fundos...

'vai que eu te espero aqui...' mas meu amor!

Deixa rodar a maquininha, a barraquinha, minha bonitinha... pagou o estacionamento? 'não, não tenho dinheiro...' caráleo...

amor à la Paulistana...


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17.1.11

rambling

que prazer, o da alegria extraordinária. o fruto de um grande choque entre o prazer físico de se banhar em um rio daquilo que se deseja e o gozo emocional de se encontrar seguro daquilo que você sempre soube durante tanto tempo: que esse dia viria ao seu encontro, mais cedo ou mais tarde.

alegria extrema. o culto ao sentir, que seja intenso em conexões nervosas, rico em excessos deliberados de gostos e faíscas, real em cor, cheiro, toque. real em vida.

porque o que nos faz feliz é feliz por nos fazer feliz.

porque o que nos enche de dor e prazer reutiliza nossa vontade e ação de sentir para que o sentir nunca morra, para que ele continue real em cor, cheiro, toque.

que prazer, o da alegria extraordinária. do compreender que o amor não vai além do que você é, o amor se reinventa em formas invisíveis mas evidentes. ele toma a forma dos seus lábios e das lágrimas dos seus olhos, ele permanece vibrante nos seus nervos, ele não é de aço nem de músculo, ele é de eletricidade.

você é condutor.

a alegria extrema do permitir.

permitir que o todo permaneça inutilizável, entender que a pequena revolução transforma universos, entender que o gosto do prazer é o mesmo gosto que sua boca carrega, que seus olhos corrompem, que suas mãos desatam.

Tom Waits lendo poesia do Bukowski.

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