30.6.07

pleasure + pain

Eu quero mais que música.
Mais que doce na boca.
Quero mais que desejo.
Mais que certeza entre os olhos
Mais que desprezo dentro do cerco.
Eu quero mais que rotinas, maravilhas, folias e apego.
Eu quero mais que tudo,
Que mora atrás do tudo,
Quero mais do que tudo que quero e que
mudo.
Quero todo o mundo...
(Só não conto pra ninguém)

eu mesma...



existe algo poderoso sobre querer, algo incrível e único a respeito dessa nossa liberdade extrema de poder tomar as rédeas - literalmente - das nossas vidas. quando se toma por completo o tempo e o divide em atos, o fim é ímpar. o fim... o fim lembra o começo, o porquê de tudo, mais do que a razão do negócio, a paixão que transformou a razão. se vamos começar algo que seja exatamente pela origem de tudo com muita paixão... passar bem.

28.6.07

solidão, como Jerry a descreveu.

There's no out, downside, up for good, no light nor reflection understood . Had to try, perversion satisfied... Insane... so, I indulge the beast awhile. When hurting yourself feels right and there's nothing familiar in sight, take the time to pull the weeds, choking flowers in your life. Or seal your doom, cold transparent blue locked inside a room in solitude. There's no flesh, my own ghost awaits. Unclean, defiled, hallucinatory state... lust, sloth, not my only sins. It's just how, when it's time, on a degradation trip...

When hurting yourself feels right, long gone the will to fight, take the time to pull the weeds choking flowers in your life or seal your doom, cold transparent blue locked inside a room in solitude.



Insanity takes you so black, it's untrue...

sinto falta...



mesmo sem ter vivido nada...

26.6.07

A História que guardei no seu bolso - II


As portas de vidro da sala que davam para a pequena varanda bateram com violência. Os dois continuavam conversando e ela continuava os observando. O amor pode sim ser tão intenso e repentino, como aquela ventania irregular. A televisão ainda estava ligada, o som que tocava música de filme antigo também estava ligado e ele ainda tinha um copo de café na mão. O marido tão mais jovem que ele estava feliz pela visita, mas realmente não tinha entendido nada. O olhar dele ainda molhado, ainda vermelho cruzava o dela, os olhos ardiam em negação, procuravam qualquer coisa que o tirasse daquela libertação tão dolorosa, algo que o colocasse de vez no calabouço.

Os dois conversavam.


Ela fechava as portas.


Seu marido pegou uma xícara no armário e perguntou o porquê da visita. Seus olhos procuravam pelas colheres, ela prontamente trouxe uma pequenina com o cabo azul e girou o café que já estava com açúcar.

"Ele veio pra dar carinho, é um anjo."

"E você que também é um anjo faz café e torradinhas pra ele!"
"E pra você, amor..."

"Pra mim você faz sempre..."
"Verdade"


Sem saber como todos se entendiam tão bem, o vermelho dos olhos dele se transformaram em olhos serenos de atenção. Era tão bonito ver os dois, como só os dois eram. Era bonito ter os dois juntos próximos dele como se aquela ventania lá fora representasse algo, um adeus talvez. O café havia sumido da xícara no tempo daquela curta conversa.


"Quer mais?"
"Não, não. Acho que vou embora agora."
"Não vai não, cara. A ventania derrubou umas árvores no caminho, a estrada de volta tá enterditada."

A televisão teimosa não falava do que se interessava. Ele ficou quieto sem entender e ela já pressentia que algo iria acontecer.


"Então fica aqui hoje. Amanhã você vai! Você não viajou duas horas só pra passear, vai ficar..."

"Duas horas? Não... quando a gente tem pelo o que ir o tempo passa mais rápido."
"Mais rápido cara? Achei que passasse mais devagar..."


Em tempos idos tudo o que ele a perguntaria é "porque você faz isso comigo? Ama de longe, quer de perto o tempo todo e espera por algum sinal pra eu te dizer 'vai lá amor, ame mais porque é só isso que você pode fazer' ". Mas agora não eram de provas que ele precisava e sim ver de perto de onde vinha todo aquele empenho. Seu amigo era um sábio, realmente. Mas ele a amava e não era de longe. Ele estava ali. Ela o amava também, como sempre disse e tinha finalmente os dois juntinhos na mesma sala.

A ventania lá fora tinha se transformado em chuva cinza e pesada. A luz acabou de repente e o silêncio da falta de televisão e som fez o bule na boca do fogão apitar mais alto.

"Ai ai... Bem hoje que eu precisava me internar no estúdio."
"Se interna aqui na sala."

"Vou fazer o café, Lee. Onde está o pó?"
"Sabe fazer café a moda antiga, Louis?"
"Sei que tem que por água no pó e deixar escorrer... É assim?"
"Bem hoje que tinha que gravar... Saco!"
"Não xinga, Tom. Louis, deixa eu arrumar isso pra você"

"Faz mais torradas, Lee?"

"Faço..."


Enquanto a chuva caia, o marido tirava o violão da caixa na sala. Ele a ajudava com o café se divertindo com seus braços que se esbarravam na cozinha. O olhar dela era bem o dela, daquele doce que ele gostava e que tinha visto nele mais do que qualquer um, afinal tinha escrito aquele texto pra ele. A imagem dos olhos de Daniel Day-Lewis na tela voltavam a cabeça dela, Juliette Binoche agora chorava pedindo pra ele ficar longe.

O café cheirava forte.


"Amor, que cheiro bom!"

O violão começava a tocar, o ritmo da chuva lá fora o acompanhava. O bule estava cheio e as torradas no forno, com azeite e orégano.


"Básico."

"Básico, mas você não comeu as que eu ofereci."
"Não como quando tenho algo importante pra falar."

As vozes dos dois estavam longe na cozinha.
O violão ficava a espreita. Os olhos do marido procuravam o da mulher. Ela os encontrava enquanto falava baixinho com ele.

"Ainda tem coisa pra falar?"

"Tenho. Mas amo demais o homem que vive com você."
"Também o amo. "

"Não como a mim."
"Essas coisas não se medem"

"Se sentem, eu sei."

"Você sabe"
"E você me salvou. Precisava falar..."

Ela sabia e aumentava o tom para falar com o seu marido que estava longe.

"Tom, quer café?"
"Quero amor, e torradas!"

Todos os cafés da vida, servidos por ela eram os melhores. Servidos pelos dois, amor e mestre eram mais do que tudo pra ele. Enquanto dedilhava as cordas do violão ele os via saindo juntos da cozinha e pensava "Ah sim... como são importantes pra mim...".



*foto de Tudor Hulubei

uma histórinha... por Eddie Vedder


He could've tuned in, tuned in, but he tuned out. A bad time, nothing could save him. Alone in a corridor, waiting, locked out, he got up outta there, ran for hundreds of miles. He made it to the ocean, had a smoke in a tree, the wind rose up, set him down on his knee... a wave came crashing like a fist to the jaw, delivered him wings 'Hey, look at me now'! Arms wide open with the sea as his floor, oh, power, oh! He's.. flying! Whole! He floated back down 'cause he wanted to share his key to the locks on the chains he saw everywhere. But first he was stripped and then he was stabbed by faceless men, well, fuckers he still stands...


And he still gives his love, he just gives it away. The love he receives is the love that is saved! And sometimes is seen a strange spot in the sky, a human being that was given to fly... High!

Flying high...

He's flying...

25.6.07

A História que guardei no seu bolso


Ela estava de pé, a alguns metros da porta semi aberta. O vento lá fora parecia ser o mais forte dos últimos tempos. A música tocando ao fundo a lembrava de filmes antigos, de repente a imagem de Daniel Day-Lewis observando Juliette Binoche dormindo surgia como um flash-back em sua mente. Ele deveria abrir aquela porta a qualquer momento. Ela encostou a cabeça na porta do armário de casacos, ao lado esquerdo da porta que como havia previsto, começara a abrir. Ele estava lá e lentamente arregalava os olhos encontrando os dela que sorriam para ele. Ele sorriu de volta e entrou na casa, deixando o vento forte do lado de fora.

"Nunca vi ventania assim por aqui..."

"Acho que você a trouxe enquanto bufava no caminho."
"Talvez. Preciso falar com você."

"Acabei de preparar café. Vem comigo."


Ela seguiu a sua frente caminhando até a cozinha impregnada com cheiro forte de café e torradas no forno.

"Mmm, azeite e orégano. Básico, delicioso."
"Era só pra mim, não sabia que você estava a caminho quando coloquei as torradas no forno."
"Você sabia que algum dia eu apareceria."
"Sabia sim."


Enquanto ela servia o café, ele se sentou olhando pela pequena janela que dava para a casa vizinha. Alguns potes de violeta enfeitavam a visão de quem estivesse lavando a louça. Ela se sentou ao lado dele, adoçando seu café empurrando a bandeja de torradas para ele. Ele não quis, movendo a cabeça para os lados, observando a xícara imensa de café posta a sua frente.

"O que queria falar pra mim?"

"Muitas coisas."
"Comece pela primeira, então."
"Não dá. Preciso falar tudo de uma vez."

"Então fale..."
"Não sou bom nisso."


O vento lá fora ficava ainda mais forte e ela começou a se preocupar. Levantou e fechou a janela, foi até a sala de estar e ligou a televisão.

"O que você está fazendo?"

"Quero ver o canal de notícias. Vai que tem alguma coisa acontecendo e nós não sabemos..."

"Deve ser um tornado por aí!"

"Não brinca! Aqui nunca teve isso!"
"Pois é... Está tudo mudado..."

Ela ligou a televisão no canal onde falam aqueles repórteres que ele odeia. Odeia cada som que eles emitem. O rosto dele começou a se fechar e acabou tomando todo o café em um gole só. Ela ficou espantada e sentou ao lado dele novamente, deixando a xícara de lado e segurando em suas mãos. Ele respirou fundo enquanto buscava coragem em algum lugar de seu corpo todo pra falar aquilo que queria falar. Não havia palavra pra começar e ele decidiu ser breve.

"Não sei como, mas você de algum jeito... me libertou."

Continuava meio inseguro ao dizer isso e a observava agora com mais medo. Seus olhos contornados por aquele preto intenso que gostava de usar não saiam de cima dele. Suas mãos macias não largavam as mãos dele.

"Tudo o que li lá era feito pra mim, parece. Literalmente."

Ela continuava o ouvindo com atenção, mas ele já estava olhando para outra direção e tirava suas mãos duras e ásperas das dela.

"Você fez tudo de propósito. É o que me parece."

Enquanto ele falava, algum daqueles repórteres que ele odiava falava sobre o clima. O semblante dela havia mudado.

"Espere."

Levantou-se da cadeira e foi até a sala, ele apoiou sua testa sobre as mãos e respirou profundamente retomando o fôlego. Não ouvia nada, apenas seu coração batendo num ritmo alucinante. Suas mãos suavam frio. Ele percebeu que ela estava voltando e levantou o rosto para olhar em seus olhos.

"O que era?"
"Queria ver se alguém falava de algum tornado na região, mas é óbvio que não é nada disso, e a ventania toda parece estar diminuindo..."
"Bom..."
"Continue o que estava falando"
"Era isso."
"Que o que eu escrevi te libertou?"

Ela parecia confusa e não havia entendido bem o que ele queria dizer. Serviu mais café pra ele e novamente empurrou a bandeja de torradas para o seu lado, sendo novamente rejeitada pelo seu amigo.

"É... Exatamente. Você sabe o que fez, não sabe?"
"Não sei, amor. Fiz, realmente, pensando em você."
"E foi perfeito o que fez, obrigado. Vim para agradecer, mesmo. Obrigado"

Nesse momento a campanhia tocou. Ela parecia não ter sossego! Xingando alto ela se levantou e pediu que ficasse ali porque ela já voltava. Ele ouviu o som da porta se abrindo e a voz do seu marido entrando, velho amigo de luais e encontros musicais... Ela explicou em voz alta para ele o que o amigo deles fazia ali, enxugando as mãos na toalha da cozinha ele se levantou e o casal entrou pela cozinha, ele com um sorriso enorme, ela quieta segurando seu casaco. Os dois se abraçaram como velhos amigos se abraçam depois de anos de desencontros. Ela os observa e se perguntava como conseguia amar tanto assim dois homens completamente diferentes e únicos.

O vento lá fora voltou a assusta-la.

22.6.07

the importance of being... idle?




trecho

Pois...
Seus olhos falavam algo, era realmente incrível mesmo. Uns olhos assim felinos, ferinos até. Mas além de tudo eram o gelo de aço que assim cortava a tudo e todos, inclusive ela mesma por detrás do doce amargo do mel que ela tinha na voz, e nem era do melhor bom gosto enfim... Era tão dolorida que dói ainda, em mim.

19.6.07

não experimentalista

cansada de puxar o fio sozinha.

desenrolando cordas de amarrar seus pés, passeando por estilos, trombas, bicos, mudos e surdos. cansada de puxar conversa. a rua é vazia quando estão todos com tanta pressa. essa pressa é para sempre para o tempo passar, ele pede asas, pede trégua para o verão passar, pede rédeas, pede água para o sertão molhar, pede eu sinto, pede eu reflito, pede dias pra a saudade matar.

cansada de rasgar com o estilete sozinha, as gotas caem sobre o tapete persa que a sua mãe sempre sonhou em botar na sala, sempre precisou de sol pra queimar as tralhas e agora o sangue mancha e mancha tão bonito que disso eu tirei uma foto, uma foto colorida que depois eu recortei, recortei e colei naquela carta que te enviei.

cansada de puxar as amarras sozinha, de vestir a blusa sozinha, de beijar o ar sozinha, enganar a minha solidão cheia de mais alguém. cansada de render os pulsos de entender das coisas de conhecer as gentes de entender as línguas. sou tão boa com todos, sou tão boa para mim, são todos bolos os tolos, tão cheios de regras os dos outros, tão lindos tão longe tão perto enfim...


cansada de frear sozinha.
botar os dois pés de uma vez no acelerador.

cansada de trocar de marcha sozinha.

de olhar pro lado e ver mar azul em boa companhia.

cansada de refrescar a sorte.

dar pano pra intuição, azar pra morte.

de molhar no molhado essa barra de calça velha, sentir o vento frio pelo calçado anabela.
cansada de fritar no escuro
de beirar o precipício

de esperar pela ponte.

cansada desse sacrifício
de não sacrificar nada de se perder encontrada de se repetir e se estar errada.
cansada.

cansada e ainda forte.

16.6.07

Será que você vai ler?

Foi você quem me ensinou a perder tempo ouvindo música, respirando cimento, chorando quietinha. Foi você quem me prendeu no quarto, me fez amar meus pés e correr sozinha quando o sol nasce. Foi o calor que meu peito encontrou no seu que me fez acreditar não no que havia em você, mas no que havia em mim. Foi sua calça jeans surrada, seu cinto gasto e seus óculos caindo pra frente enquanto você parava pra pensar que me deixaram intrigada. Foi você que me fez amar e me ensinou como era querer um homem mais do que qualquer coisa, foi você quem me fez querer e foi bom pra mim enquanto acabava com toda a sua vida... Foi você quem fez você mesmo acreditar que eu não merecia seu espaço, seu tempo, seu jeito... Foi você que me ensinou a aprender e foram boas as tardes cinzas, o vento e as conversas de museu, de parque e de carro velho do seu pai... "tudo o que ele conseguiu me dar e foi o mínimo". Foi você quem me deu o beijo que eu esqueci de tão tensa que fiquei. Foi você que precisou demais de alguém que te deixasse preso numa corda na cozinha, fui eu que não quis. Foi você que me desanimou profundamente e me fez te esquecer e me fez te lembrar que era assim mesmo, sendo assim você estava livre pra ir, tudo o que você não queria... Mas foi você que me fez querer ser mais pra alguém. Foi você que viu em mim mais do que alguém já havia visto. Foi você o lindo e cavalheiro, mas hoje cansado e triste que tem que acreditar mais em si porque o amor delicado que eu sinto ainda existe, e te quero bem do outro lado desse muro que você construiu todinho, só pra mim.
.
.
.
*foto do filme clube da luta... você vai entender.

14.6.07

está quente aqui dentro, embaixo, em cima, em volta...

eu tenho o pensamento que vive constantemente me azucrinando, aquela pergunta que intensifica a minha vontade de esquecer de mim. porque vivo no futuro desse jeito? porque vivo no que desejo nos lábios, quando sinto o gosto que chega com o pensamento daquilo tudo que ainda não chegou? o desejo é tão grande e é tudo tão quente... como é quente a sutileza dessa vida minha escondendo furacões e trovoadas, escondendo erupções vulcânicas periódicas e suas conseqüências em meu organismo! em cada laço tem mais um dia longe, um gosto diferente, um mover dos lábios todo particular para aquela pessoa... porque vivo no futuro? pagando minha dívida eterna com esses anjos que me pregam peças... esse tempo que vivo é tão curto, o querer é tão profundo que literalmente não cabe aqui dentro, cabe fora, transborda e é mais do que água em um riacho correndo, é oceano meu amigo... oceano não contido e eternamente parte dessa pessoa tão pequena.

12.6.07

por anthony


"intuition's only what you take from it."

pedaços do meu diário

a televisão está ligada.
a água fervendo e o bule apitando.
pedi um café.

***

são em média três milhões de pessoas que eu vejo passar todos os dias, por todos os lados e ruas e em todos os ambientes em que me encontro. ao ar livre ou em ar enclausurado.


***

um pai e uma mãe largaram a filha dormindo sozinha no quarto de hotel.
ela está desaparecida há um mês. sua idade: quatro anos.


***

dois idiotas refletem sobre qual carro devem comprar agora...


***

as notícias me matam.


***

dia dos namorados... nem quando tinha namorados passava esse dia com eles.


***

os corvos são lindos.
os caboclinhos também.
as viuvinhas são delicadas e eu também.


***

cansei. quero fechar esse livrinho, mas não consigo.

***

john frusciante é o melhor psicólogo do mundo!

por bob


"heard ten thousand (and more) whisperin'
and nobody listenin'..."

11.6.07

from milwaukee to desmoines


ele dizia que tudo é bonito.

tinha um gosto de bonito em tudo o que falava e cantava sozinho mesmo quando acompanhado.

era sereno mas não era calmo.

tinha os olhos em chamas e mais do que isso, tinha sede por tudo que não entendia porque fazia tanto sentido não entender. era só sentir! escrevia cartinhas, escrevia bilhetes e deixava suas crianças tocarem mesmo que mal o seu trumpete, o sax e todos os instrumentos velhos que habitavam a garagem da sua casa. ele tinha um jeito especial de amar e era bonito. ele dizia que tudo era bonito e eu sempre acreditei. quando parar de acreditar vou morrer. vou morrer com tudo aquilo que morre sem viver por medo. vou morrer junto daqueles que não sabem que são mais especiais por serem simplesmente. vou morrer porque não ouvi o sol se despedindo no horizonte perdido dessa cidade perdida onde há mais gente do que formigas e formigueiros.

quando parar de acreditar acho que vou sumir. como somem aqueles que gostam de sumir. eu nunca gostei de sumir... eu permaneço. mesmo longe. permaneço e nunca, nunca desacredito.



*foto por alguém do site dos peppers, acho que da Heather (que também não sei o sobrenome)


8.6.07

-Ah, tem um mato pisado logo ali, tá vendo?
-Foi alguém que andava na chuva, oras...
-Nada! Foi antes...
-Como você sabe, Sherlock?
-Dá para ver, cáspita!
-Como?
-Tem muita água em volta, lama e tals. A pegada não tá tão nítida entende?
-Sim, sim... Você é um gênio...
-Eu observo.
-Humm. Você viu o que aconteceu?
-O que?
-To aprendendo demais a desapegar...
-Como assim?
-Sei lá.
-Como assim? Conta.
-Sei lá. Tudo é sem sentido.
-Disso eu sei.
-É. Tem coisas que me machucam sabe? Demais.
-Sim... Normal.
-Mas tem coisas que me machucam e eu tenho certeza que é de propósito...
-E onde entra o lance do desapego?
-Entra quando eu não ligo.
-Pra que!?
-Pro de propósito, entre aspas, sabe?
-Sei... Não, pera, não sei.
-Que parte você não entendeu?
-Pera. Você sabe que é de propósito e não faz nada?
-Não.
-Porque sua anta?
-Porque não adianta!
-Porque não adianta?
-Porque não vai fazer a diferença... Sabe?
-Não sei do que você está falando...
-Vamos embora, vai.
-Nervosinha.
-Vai logo.
-Que foi?
-Cansei, vai logo.
-Você vai embora já?
-Já, boa noite, você não entende nada.
.
.
E assim ela se foi e ele não entendeu nada.

tito e wonderland

Hoje de manhã, no meio de muita conversa e música, Tito resolveu dividir comigo o que há de mais precioso na distância formada pelos teclados e monitores a nossa frente: as palavras. Escrevemos um texto chamado "Me too", muitíssimo inspirado no que os personagens do filme Uma canção para Bobby Long nos fizeram sentir.

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Para ler basta clicar no título abaixo:

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"Me too - texto a quatro mãos: as duas do Felipe Belão Iubel e as duas da Alice 'Wonderland Girl' Salles – 'ela, puro sentimento' diz Tito."


7.6.07

"Olhar de menina perdida perdido"

Existe uma penteadeira com um espelho antigo de sua mãe pendurado na parede rosa clara.

O sol está prestes a nascer e a menina acordou cedo pra se olhar no espelho. Não, não era uma mulher no auge de sua delicada forma vaidosa, era uma menina que assistia aos filmes de Marinlyn Monroe, Brigitte Bardot, Lauren Bacall, Greta Garbo e especialmente os de Marlene Dietrich e sua cigarrilha. Enquanto se olhava no espelho mexia em seus cabelos, passava os dedos longos pelas ondas de seus cachos dourados. Enxergava melhor os seus olhos castanhos, o brilho que se formava com os primeiros raios de luz do dia. Um vento frio soprou as cortinas e seus cabelos dançavam com a sua força. Ela pegou o lápis de contornar os olhos e o colocou entre os dedos indicador e médio. Puxou a cadeira de lado e sentou de um jeito que ficava de frente para a porta. Cruzou as pernas, apoiou o braço sobre o encosto da cadeira que tinha um alcochoado verde musgo. Seus dedos ficaram na posição perfeita. Marlene Dietrich ficaria orgulhosa. Suas sobrancelhas e seu olhar seguia sua mão e seu lápis de contornar os olhos. O sol estava lá fora a chamando, era um domingo logo cedo pela manhã e seus lábios se moviam devagar, ela os molhava para ver a cor vermelha ficar ainda mais intensa e murmurava para o espelho...
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"Darling, the legs aren't so beautiful, I just know what to do with them... "
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Um barulho na porta a assustou e a menina largou o lápis sobre a penteadeira. Sobre a mesinha as fotos de todas as atrizes estavam recortadas e em volta a maquiagem de criança estava toda espalhada. A menina desceu as escadas e foi tomar café da manhã com sua mãe e avó enquanto seu pai entrava com o jornal pela porta da cozinha. O cachorro não parava de latir.
.
..
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*título por Felipe Belão Iubel, gracias my friend!

4.6.07

you don't form in the wet sand, i do.

"...i'm almost there, why should i care?
... motivated by the lack of doubt ..."
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a última música que eu cantei no carro foi wet sand.
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a última sensação de pertencer foi naquele carro, com aquele som, com aquele perigo em volta. aprendi a ser gente com aquele carro. fui ilegal dentro, fora e por cima daquele carro. fui rara por causa daquele carro. a última música que cantei no carro foi wet sand... enquanto tudo parecia que não tinha volta o carro fazia tudo ter sentido, ele me fez fugir e aceitar, foi o carro que me fez querer ser livre pra ser mais livre pra aprender que não tenho como ser tão livre quanto gostaria de ser. foi só o carro e por vontade própria que aprendi a desaprender, foi o carro que me deu dias bonitos e tristes, mas todos vividos.
.
ai carro meu que não é mais meu e nunca foi, que tristeza eu senti e nem olhei pra trás pra te dizer adeus...

you must be!*


"But I don't want to go among mad people," Alice remarked.
"Oh, you can't help that," said the Cat: "we're all mad here. I'm mad. You're mad."
"How do you know I'm mad?" said Alice.
"You must be," said the Cat, "or you wouldn't have come here."




*Pedacinho de Alice no país das maravilhas...

we all wait for...



a gente espera por algo.

espera sem contexto, sem direção.

espera com nomes diversos, espera por esperar, por loucura, diversão ou sem razão.
a gente espera sem sentido, parado no tempo esperando o tempo chegar e te tirar dali. a gente espera sem esperar, com pressa, arrasado, quebrado, com umas pratas no bolso ou no calção. a gente espera sem meia, sem documento, sem lenço, sem sangue nas veias e nas artérias, sem oxigênio para as células...
a gente espera por miséria e quando ela chega, sem nem meio jeito ela se acanha e logo se despede, com as mãos abanando, assim no bom e velho estilo miséria de ser. a gente espera por dúvidas, porque elas nos enchem de certezas. a gente espera por meias verdades porque elas demoram para serem descaradas. a gente espera por coisas que mal a gente sabe, já estavam esperando pela gente, antes mesmo de estarmos aqui.
esperamos por cores e formas, das mais variadas, das mais quentes e frias, querendo mesmo encontrar nisso tudo uma boa razão pra continuar esperando.
a gente espera medidas comedidas, entregas pela metade, despedidas azedas, beijos partidos, rejeições realistas, interferências morais, abraços vazios, copos cheios e copos vazios...
a gente quer farra, fama, falta... a gente espera por nada.
esperamos tanto que ao sentarmos nesses bancos de praça pra esperar a vida passar, a coisa toda já passou e você esqueceu de aceitar.
esperamos, esperamos, esperamos...
queremos compartilhar esperas frustradas.
queremos dividir o que nos frustra, o que nos humilha, o que nos maldiz.
queremos mais do que isso, queremos aceitar que não somos mais do que giz colorido nesse quadro negro de onde saímos.
esperamos por essa maria fumaça pra que ela nos leve daqui pra qualquer lugar onde amar seja fácil. mas quando é fácil a gente corre e espera que na cidade mais próxima tenha algo mais difícil ainda pra se querer...


*foto de sacha dean byian

1.6.07

o sentido certo de ir ao fundo

nossa...
mas que fora de série isso tudo.
a dor na garganta
a secura nos olhos,
o terreno íngreme, bom de fechar os olhos e se largar pra só encarar as conseqüências quando chegar lá em baixo.
não quer dizer nada, mas quer fazer muito por mim, esse medo morto, esse peso empapuçado que agora não tem vontades próprias.
só impróprias, só desejos pensados por mim...
tirar essa camada
rasgar essa estampa
ir mais a fundo e buscar o fundo... tudo isso é parte dessa minha vontade de fechar os olhos e me largar pra só encarar as conseqüências quando chegar lá em baixo, no fim do terreno íngreme...